Evento em Brasília promovido pela Anpsinep aborda a situação Jovens Negros no Sistema Socioeducativo

Na manhã da última segunda (16), no mês que é marcada a abolição da escravatura e marcos a saúde mental e a Luta Antimanicomial, a Articulação Nacional de Psicólogas(os) Negras(os) e Pesquisadoras(es) - Anpsinep , em parceria com a Fiocruz e Sejus, realizaram o seminário 'Saúde mental e enfrentamento à violência racial no Sistema Socioeducativo no Distrito Federal'.

O seminário temático abriu as atividades do projeto 'Fortalecimento da rede de proteção e cuidado a jovens negros em conflito com a lei', a fim de refletir questões e pensar em ações em defesa da vida e dos sonhos de jovens negras e negros. Na abertura da cerimônia foi amplificada as questões que fazem mote ao evento, "Como estão os jovens negros em confito com a lei? E como estão suas famílias?", seguidas de reflexões proferidas pela Coordenadora Regional da Anpsinep Centro-oeste, Elcimar Pereira, sobre a necessidade de considerarmos o contexto e os dados que apontam a negligência e destruição de vidas negras.

"Não podemos pensar na juventude negra apartada das suas famílias, dos seus contextos, das suas realidades, dos seus sonhos, sonhos estes, que muitas vezes são abortados. Pois sabemos que temos uma história no Brasil, que por muito tentou desconsiderar que a pessoa negra tenha seus laços de afeto, e possa ter o suporte dos seus entes queridos e da sua comunidade. E tivemos ações desse país, muitas dessas ações do Estado, que negavam e impediam a formação, e fortalecimento de famílias negras, e que negam o direito de uma educação digna, uma saúde integral para desenvolver suas potencialidades e possibilidades. E ainda vivemos no país que mata a população negra", afirmou a também doutora em Psicologia Social, Elcimar Pereira.

Na mesa de abertura, além dela, tivemos as presenças do Coordenador do Núcleo de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas da FIOCRUZ Brasília, André Guerreiro, do Ativista dos direitos humanos de crianças e adolescentes e integrante do comitê de participação de adolescentes do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente - CONANDA, Andrey Nascimento, da Coordenadora de Políticas e Atenção à Saúde de Jovens e Adolescentes da Subsecretaria do Sistema Socioeducativo, Fabíola Alves da Silva Nascimento e do Subsecretário de Políticas de Direitos Humanos e Igualdade Racial da Secretaria de Justiça e Cidadania do DF, Diego Moreno de Assis e Santos.

A programação do evento contou com três painéis, no primeiro onde foi discutido '10 Anos do Sinase: Desafios para Responsabilização Protetiva e Enfrentamento ao Racismo Estrutural no Sistema De Justiça Juvenil', com as presenças do Coordenador da Anpsinep, Igo Ribeiro, a Gerente da GEAMA de Samambaia, Mônica Wianine Gomes de Moura, do Assistente Social, Doutor em Política Social e Professor do Departamento de Serviço Social e do Programa de Pós-Graduação em Política Social da Universidade de Brasília, Leonardo Ortegal, e do Promotor de Justiça do MPDFT com atuação na Segunda Promotoria de Justiça de Execução de Medidas Socioeducativas do Distrito Federal desde agosto de 2017, Márcio Almeida.

O segundo painel 'Faces da Violência Racial Contra Jovens Negros no Sistema Socioeducativo', com as presenças da Socióloga e Sanitarista. Especialista em Atenção Comunitária para pessoas com demandas e/ou necessidades relacionadas ao consumo de álcool e outras drogas, Graziella Barbosa Barreiros, da doutoranda em Antropologia Social pela UnB, atuante pelos direitos das crianças e adolescentes já tendo produzido estudos sobre os homicídios de adolescentes negros e sobre a redução da maioridade penal, Raíssa Oliveira, da cofundadora e diretora executiva da Iniciativa Negra por uma Nova Política sobre Drogas, Nathalia Oliveira, e do mestrando em Educação pela UnB e assessor da Geama Ceilândia Sul, Daniel Monteiro.

No terceiro e último painel, sobre 'Redes protetivas e de cuidado em Saúde Mental de Jovens Negros em conflito com a lei no DF', contamos com as presenças da psicóloga clínica, mestranda em Psicologia Clínica e Cultura pela UnB e integrante do núcleo DF da ANPSINEP, Joyce Avelar, da especialista em saúde mental, membra consultora da comissão de igualdade racial OAB Brasília, conselheira da CODIPIR Conselho Distrital de Igualdade Racial do GDF, fundadora do projeto Renascer contra à violência e do www.eumeprotejo.com, Neusa Maria, da psicóloga e mestre em Processos de Desenvolvimento Humano e Saúde pela UnB e gerente da GEAMA Paranoá, Ana Clara Manhães Mendes, e da psicóloga, doutora pela UnB e École Doctorale Recherches en Psychanalyse et Psychopathologie da Université Paris Diderot, atuante no sistema socioeducativo do DF, Iara Flor Richwin Ferreira.

Segundo Joyce Avelar, que também é articuladora local do Projeto 'Fortalecimento da rede de proteção e cuidado a jovens negros em conflito com a lei', o evento ocorreu no dia 16 de maio, mês em que se é marcado o 13 de maio, Dia da Abolição da Escravatura, quanto o 18 de maio, o Dia Nacional Luta Antimanicomial. "Mesmo após 134 anos desse pós-abolição, a gente ainda está lutando contra os manicômios, a gente ainda está lutando contra o genocídio da juventude negra, a gente ainda está lutando contra o encarceramento em massa. O que mudou nesses 134 anos? Muita coisa mudou, mas ao mesmo tempo há uma lógica racista perversa que continua a se reproduzir e se perpetuar com diferentes facetas ao longo da história ", afirma.

Ainda sobre as estatísticas, Joyce reflete sobre a negação da negritude em se reconhecer como pessoa negra, diante da negatividade imposta às identidades. "Sim, a gente tem um sistema extremamente violento, mas a gente disputa outras possibilidades de existência de vida. E nessa disputa, a Anpsinep se posiciona a favor de novos caminhos e novas formas de vida, nessa disputa, a gente se posiciona e se compromete a tentar mudar alguma coisa apesar de, e diante de tanta precariedade. O nosso compromisso também passa pelo direito de sonhar, pelo direto à esperançar. Não só o direito a sonhar, também o sonho que nos movimenta ao agir em direção aos novos caminhos", conclui a psicóloga.

O seminário, que ocorrerá também no dia 30 de maio, em Pernambuco, com mais apoiadores parceiros e um time de convidados especialistas na área, foi realizado pela Anpsinep, em parceria com o Programa de Residência Multiprofissional em Saúde Mental da Fiocruz Brasília e com a Secretaria de Justiça e Cidadania do Distrito Federal, por meio da Gerência de Saúde Mental de Jovens e Adolescentes (GESAM)/Diretoria de Saúde de Jovens e Adolescentes (DISAU). A atividade também contará com a parceria e participação da organização Iniciativa Negra por uma Nova Política de Drogas. O evento foi gratuito, aberto ao público e transmitido pelo canal da Fiocruz Brasília.

O seminário faz parte das atividades do projeto apoiado pela Fundação Tide Setubal, que será desenvolvido no Distrito Federal e Pernambuco, durante um ano, e terá como tema e objetivos principais, o enfrentamento ao racismo institucional e a formulação de metodologias de cuidado em saúde mental ancoradas na perspectiva antirracista. O projeto ainda prevê formação técnica e política destinada a servidoras/es que atuam na execução das medidas socioeducativas em meio aberto.